domingo, 8 de junho de 2014

Hortas Urbanas: uma alternativa saudável em meio à selva de pedra.


Prédios, cinza, poluição, carros, buzinas, trânsito: um típico cenário urbano. Em meio a esse caos, há um crescente movimento nas grandes cidades pelo resgate de uma vida com hábitos mais saudáveis. Entre eles, está o cultivo e consumo de produtos orgânicos plantados nas chamadas hortas urbanas, geralmente uma adaptação de um espaço vazio ou mal utilizado – ainda mais quando se torna um depósito de lixo ou entulho- em um local de cultivo de verduras, legumes, frutas.
Apesar de não ser uma ideia nova –há registros de hortas em centros urbanos em países do norte da Europa durante a segunda metade do século XIX – todas elas têm um mesmo propósito: promover a integração com a comunidade, repensar o uso do espaço urbano e, principalmente, mudar o conceito de produção e logística dos alimentos, além de facilitar o acesso a produtos mais saudáveis e frescos.
A jornalista e ativista do coletivo ‘Hortelões Urbanos’ Claudia Visoni é uma das pessoas que aderiram a essa onda. Após pesquisar muito sobre questões ambientais, ela percebeu a necessidade do resgate da cultura do “manejo e contato com a terra de nossos ancestrais”. Em 2008, passou a cultivar uma horta em sua própria casa. “É um conhecimento da humanidade que precisa ser resgatado”, afirmou. Hoje, o grupo do qual faz parte reúne pouco mais de 3.500 pessoas que também cultivam em casa ou no bairro onde moram hortas das mais variadas formas e técnicas.
O resultado dessa conscientização tem aparecido em alguns locais da cidade de São Paulo como na Vila industrial, em Taboão da Serra, na Pompeia, Vila Beatriz e até mesmo em pleno centro empresarial da cidade, na  chamada Praça do Ciclista na Avenida Paulista. “Qualquer pessoa pode por a mão na terra, plantar, colher e levar para casa aquilo que cultivou de graça”, resume Claudia.
Hortas das Corujas na Vila Beatriz: verde em meio ao concreto dominante de SP
Hortas das Corujas na Vila Beatriz: verde em meio ao concreto dominante de SP
Outra importante ação encabeçada pelo grupo foi o envio de uma proposta à prefeitura para que hortas comunitárias sejam implantadas em todos os bairros, escolas, parques e postos de saúde da cidade. “É uma solução simples para diminuir custos alimentares e melhorar o clima da cidade atenuando ilhas de calor. E é também uma alternativa gratuita de lazer,  que aumenta a permeabilidade do solo, reduz as emissões de gases do efeito estufa (já que não há o transporte motorizado) e inaugura espaços práticos de educação ambiental”, finaliza Cláudia.
Se não tiver terra, plantaremos no telhado!
Em São Paulo, um shopping center teve uma ideia sustentável de como lidar com o lixo produzido diariamente, cerca de 600 kg e ter a sua própria horta urbana. O lixo orgânico da praça de alimentação somado ao que sobra da poda de plantas do shopping é levado a uma composteira no subsolo do prédio, essa mistura e processamento torna-se adubo que é todo utilizado na horta. O resultado disso são muitos pés de alface, quiabos, tomates, cidreiras, entre outras muitas variedades, que quando colhidas, são distribuídas entre os funcionários do shopping. Já levei pimenta, berinjela, fiz até lasanha para os meus colegas aqui do shopping”, revelou a auxiliar de compostagem, Miriam da Silva.
Iniciativas sustentáveis: telhado de shopping de SP deu espaço a uma produtiva horta
Iniciativas sustentáveis: telhado de shopping de SP deu espaço a uma produtiva horta
Hortas urbanas com responsabilidade social
Além dos benefícios já conhecidos de se ter uma horta por perto, a ONG ‘Cidades sem Fome’ vai além: o objetivo é promover a integração social de grupos vulneráveis utilizando como ferramenta de inclusão os trabalhos de horticultura, que também contribuem efetivamente na melhora da alimentação de crianças e adultos.
“Temos o caso do José, um senhor de cerca de 70 anos que estava desempregado há três e dependia da aposentadoria da mãe para sobreviver. A partir do aprendizado de técnicas e posteriormente o cultivo da própria horta e comercialização do que produzia, ele passou a ter uma renda média de 2.200 reais”, nos contou Hans Dieter Temp, idealizador do projeto.

Seo José e sua horta. Exemplo de como a horticultura pode ajudar na inclusão social
A equipe de Hans oferece assistência a 21 hortas na periferia da zona leste paulistana onde trabalham 115 pessoas como agricultores urbanos. Com isso, a subsistência de pelo menos 650 pessoas está garantida.  Além disso, outras 15 hortas foram implantadas em escolas públicas da região, onde 3.972 alunos participam das atividades do projeto Hortas Escolares – e o projeto já apresenta resultados comprovados da melhora da situação nutricional de milhares de crianças. “Usamos espaços públicos e privados que não são aproveitados, negociamos o uso deles um a um, e onde geralmente as pessoas descartam lixo, entulho, promovemos uma verdadeira revitalização da área com as hortas comunitárias” destaca Hans.
Horta na Escola Municipal de Educação Infantil Pestalozzi no Jardim Iguatemi
Outro ponto importante defendido pela ONG é o consumo local do que é produzido pelas hortas comunitárias. “A dieta da população local está baseada em arroz, feijão, farinha, refrigerante e alguma mistura, quando ela existe, com a horta, conseguimos mudar os hábitos alimentares de quem mora no entorno”, diz.
Saiba mais:
Além de São Paulo, as hortas urbanas ganharam o país. Veja mais alguns exemplos que deram certo e tem incentivado a comunidade local a ter uma vida mais saudável:
Horta Comunitária de Cosme Velho – Rio de Janeiro
Antes da implantação da horta, o cenário não era nada animador: um terreno baldio próximo à Praça São Judas Tadeu (zona sul da cidade) espantava as pessoas, cheirava mal, era banheiro de cachorros e gatos, havia muitos ratos entre outras pragas urbanas por ali.
Após duas grandes ações de conscientização no bairro, a primeira de combate à dengue e a outra contra cocôs de cachorro deixados por seus donos nas calçadas, foi sugerido pelos próprios moradores do entorno a revitalização da área, que teve início em abril de 2013 –sendo o terreno da prefeitura- e o mais interessante, foi acertado via redes sociais. Hoje, o que se vê por lá é um terreno limpo, organizado e a horta comunitária muito produtiva e variada “temos couve, beterraba, canteiro para chás e ervas, agora estamos plantamos batata doce, pimentão, já há vários tomatinhos, é uma hortiterapia para mim”, nos contou Sonia Rodrigues, responsável pela horta.
Horta Comunitária de Feira de Santana – Bahia
O Centro de Educação Básica da Universidade Estadual de Feira de Santana situado a 108 km da capital Salvador, teve uma ideia sustentável, promoveu um estímulo aos jovens a adotarem hábitos mais saudáveis. O trabalho -que foi árduo- consistiu na instalação de uma pirâmide que funciona como horta suspensa, uma horta com garrafas plásticas e uma mandala.
Além da conscientização por uma alimentação mais saudável, há também o zelo com o meio ambiente: foram utilizados cerca de 400 vasilhames retirados de locais próximos dali, abandonados pelas ruas e terrenos baldios. Em muitas dessas atividades, estudantes contam com o reforço dos pais. Além da horticultura dentro da escola, o objetivo do projeto é também fazer com que os alunos ampliem iniciativas semelhantes para outros locais públicos.

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